Só uma educação contemporânea, abrangendo soluções de inovação para uma existência sustentável em nosso planeta, tem a oportunidade de corrigir os caminhos adotados até agora, de modo que o equilíbrio econômico possa ser alcançado com a preservação ambiental e o desenvolvimento social. (Ronaldo Mota)Na semana passada, deixamos neste blog artigo com mesmo título. Fomos obrigados a criar um “capítulo II” para esclarecer melhor nossa tese e também para acolher a crítica enviada por Giovane Domingos[1] e, com isso, nos adequarmos melhor ao enunciado do texto. O ser vivo animal é avesso a mudanças e transformações. Por sua natureza e instinto, é acomodado e só reage quando está em perigo, em crise, ou tem sua sobrevivência ameaçada. O leão e a onça, por exemplo, estão sempre descansando na floresta. Vão à caça somente quando precisam se alimentar. Nós, seres humanos, sentimos um desprazer enorme quando, depois de momentos de tranquilidade, somos obrigados a participar de qualquer atividade. De uma maneira geral, não gostamos de mudança. Preferimos manter o status quo. Nossa herança cultural é lusitana e no Brasil Colônia o Estado era o principal promotor de serviços. Portugal, com medo da formação de lideranças políticas, empresariais e intelectuais, nunca permitiu que tivéssemos atividades culturais, escolas superiores e universidades, tal como ocorreu nos países vizinhos ou nos do Norte. A exemplo, a Universidade Nacional Maior de São Marcos, em Lima/Peru, e a Universidade Nacional Autônoma do México, na Cidade do México, datam de 1551. A Universidade de Harvard localizada em Cambridge, nos Estados Unidos, foi fundada em 1636. A mudança de mentalidade no Brasil iniciou-se, de fato, com a vinda de D. João VI, que criou as faculdades de Direito, de Medicina, de Engenharia e a Academia Militar. Assim mesmo, a base do trabalho era a lavoura, atendida pela mão de obra escrava, e a burocracia do Estado, acolitada pelos servidores de todos os graus do Império. O espírito empreendedor só apareceu graças aos imigrantes europeus e asiáticos que começaram a ancorar por aqui em meados do século XIX na busca de oportunidades num país onde tudo estava por fazer, dando início ao desenvolvimento nas variadas áreas do comércio e da insipiente indústria. A imigração prosseguiu pelo século XX com seu ápice após a Segunda Grande Guerra, propiciando o crescimento da indústria, do comércio e da construção civil, apoiados na migração nordestina, sobretudo no sudeste do Brasil. Somos um país emergente totalmente voltado para a necessidade de crescer em todos os setores. Mas não somos empreendedores de nascença. Haja vista as milhares de teses das nossas universidades púbicas – que não passam de belas ideias no papel –, e a existência de cursos preparatórios para os concursos públicos, campeões de matrículas em relação aos similares do mundo. Estar preso às "tetas do estado" é a contradição da inovação. Inovar como diz nosso mestre Houaiss é "introduzir novidade e fazer algo que não era feito antes". O conceito de inovação é discutido por muitos autores nos dias de hoje. De acordo com Joseph A. Schumpeter (39, 47 e 1961), citado por Ronaldo Mota e David Meerman Scott[2], há várias categorias de inovação: “1) na criação de novos bens e produtos; 2) na introdução de novos métodos ou sistemas; 3) na abertura de um novo mercado; 4) na conquista de nova fonte de abastecimento de matérias primas; e 5) na implementação de novas formas de organizações.” Portanto podemos inovar com qualquer novo produto, área ou serviço tais como: automóveis, televisão, petróleo, comunicações, automóveis, televisão, hotelaria e até mesmo em educação... Como diz Marcos Maseto, é “preciso estabelecer o conceito de inovação na educação superior como alterações que afetam pontos-chave da organização do ensino, provocadas e resultantes de mudanças na sociedade". Sem um norte corre-se o risco de divagar, ficar apenas com elucubrações. Podemos inovar em relação a um planejamento de curso que consiste em: 1) criar um novo projeto pedagógico para atender a uma nova demanda da sociedade ou do governo; 2) explicitar de forma mais ampla os objetivos; 3) reorganizar e flexibilizar o currículo; 4) reconceituar as disciplinas para atender as mudanças do mercado de trabalho; 5) substituir a metodologia da aula expositiva pela aplicação experimental; 6) explorar novas mídias tecnológicas e informacionais; 7) preparar professores que assumam a ideologia da inovação como transformação cognitiva; e 8) rever o conceito de avaliação. Esta deve ser entendida como processo de formação e instrumento de feedback (retro informação) visando: motivar o aluno a aprender; colaborar para o seu desenvolvimento integral; acompanhá-lo em seu processo de aprendizagem de forma contínua; e ampliar e aprofundar sua aprendizagem com a colaboração dos professores, dos colegas e do próprio aluno (autoavaliação). Outra maneira de propor o “educar para inovar” é impedir que o aprendiz perca sua natural aptidão criativa de criança, o que leva ao engessamento pelas estruturas curriculares das escolas e do Estado. Considerar que todos os alunos são iguais e que devem aprender conforme normas preestabelecidas – e não em função de suas experiências e estrutura formativa – é um contrassenso que impede a criatividade. “Educar para inovar” consiste em: resolver problemas; desenvolver ideias, produtos; buscar soluções para os desafios do planeta; ser proativo, inovador e empreendedor e não um passivo assistente com a "bunda na cadeira" para futuramente ser candidato a funcionário governamental. Contrapõe-se a todas essas ideias o modelo atual da avaliação do Ministério da Educação que viola o bom senso, os princípios que orientam a inovação e que agride a lei que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Agride ainda a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional que estabelece o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. Apesar das disposições legais, as instituições são avaliadas da mesma forma, utilizando os mesmos critérios de desempenho, independentemente de sua tipologia – universidades, centros universitários, faculdades integradas, faculdades e institutos. O setor particular de ensino superior está quase exaurido pelos embates com as autoridades que insistem em transformar o processo avaliativo num “cipoal de normas” com graves prejuízos para as instituições. Pior ainda: o modelo de avaliação impede a inovação, que é capaz de transformar a educação; de formar profissionais para contribuir na solução dos imensos desafios do século XXI e de ensejar que as instituições adotem alternativas pedagógicas de melhor ensinar. O MEC desobedece a legislação e por artifício matemático aplicado ao Enade impõe a nota “3” como balizadora da avaliação. E por consequência – e forma de sobrevivência – 80% das instituições passam a ter como objetivo institucional tirar nota “3”. Essa regra impede o desenvolvimento educacional, pois as IES estão absortas em não desaparecer . A avaliação tal como vem sendo realizada, tem como único propósito punir as IES deixando de ser um sistema de retroalimentação, por meio do qual professores e alunos sejam capazes de medir e de acompanhar o processo de aprendizagem. O MEC cumpre – e de forma equivocada – a função reguladora, sem um mínimo olhar para o crescimento de um País continental com diversos “brasis.” Um país carente de alternativas para seu desenvolvimento sustentável, e que precisa de profissionais qualificados que pensam para além dos padrões ultrapassados. A melhor distribuição de riqueza e menor diferença de nossas camadas sociais só podem ser conseguidas por uma transformação educacional, onde as estratégias de inovação sejam contempladas.